domingo, fevereiro 19, 2006

carry it on!

Não há de maneira alguma nenhuma palavra soprando em minha mente. Na verdade existe só a música das caixas de som e algumas vontades pequenas. Nada mais. Acho q se eu for surdo e tirar as vontades, entrarei no nirvana.

Se escrevo aqui é pq não há motivos definitivos...

Aliás, não há motivo nenhum.

Meros estímulos, somente.

É que 2 coisas me chamaram a atenção hj:

Um, eu acho que deveriam haver audioblogs. Há? =O não, este não funciona... não, nem este. Devia, viu? Há outras coisas possíveis a fazer além deste blog.

Dois, eu decidi que devo ir contra a corrente escatológica. Não me peçam para ser missionário, não me peçam para ser crente, não me peçam para mudar de casaca, nem dizer o que presta e o q não. Eu sei andar sozinho. Minha relação com Deus é íntima e pessoal, e o que peço a Ele , o q agradeço a Ele, concerne somente a o que este jornal reflete: uma via crucis.

A vida é simples, almas fortes e despreocupadas, mas aquele que diz "sou", não é. A vida é simples, o complicado é se dar conta.

Pensar é uma coisa perigosíssima. Lembrar é algo triste. Falar é insuportável. Ouvir é doloroso. Ver é vergonhoso. Escrever é dificílimo. Se calar é se afogar. Estar a salvo é fatal. Amar é odiar. Coisas boas são coisas ruins. Bondade é maldição. O tempo é doença. A morte é descanso. Tristeza é conforto. Riso é cura. Beleza é veludo. Covardia é o mais fácil e prático. Odiar é amar. Melancolia é este jornal. Liberdade é prostituição. Deuses são musos. O infinito é abismo. Saudade é anzol. Eu sou um peixinho. Este mundo é o mar.

Quando a via crucis terminar, estarei pronto.

music of the day: Over The Rhine - Hush Now (Stella's Tarantella)

"Se queres paz, te preparas para a guerra.
Se não queres nada, descansa em paz."
Engenheiros do Hawaii - Hora do Mergulho
(Mas eu acho q já li isso em outro lugar...)

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Sobre As Coisas Passageiras - Decisão

Tão mau
E tão violento é
O reino lindo e repleto
Que enclausura o coração
De quem recusa a ser
De um estranho mundo
Um e completo.

E na quina
Da ilha da fé
O homem se vê descoberto,
E cada estrela, sob o abismo
Lhe olha fixamente pra ver
Como sente o destino
ao tornar-se aberto

É estranho:
Se desesperar
É como andar num deserto
E os olhos, fatigados,
Se recusam a olhar
Pra esta esquina e saber
Enfim o que é certo.

Se apagam
As luzes do céu
E deixa-se só um meigo resto
Um ponto, Um zênite na escuridão
Do tempo apressado que te espera.
O desejo produz assim seu momento:
Feito soco mui lesto.


sexta-feira, fevereiro 03, 2006

free it!

Silêncio!

Não ouve? Em alto e bom som, ele está agora, neste lugar em que vc está, atrás de sua cabeça. Não adianta virar, e procurar, vc não o encontra assim.

Não não não, ele não é um mosquito levado, nem um alerquim serelepe. Ele é muito pesado. Na verdade, é imóvel, e para removê-lo são necessárias as forças de mil sóis... ou de uma palavra, ou um gesto. Mas também nem isso baste, talvez. O silêncio te despe e te cobre de uma nudez artística fotográfica, cujos efeitos de luz efetivam tanto que nem suas partes mais íntimas, seu sexo, sua vergonha e seu espírito por detrás do corpo serão tocados.

Ele não dorme. Pelo contrário: ele vigia, assobia uma canção esquecida, e te guarda dos lobos que estarão em sua porta. Vc só não o ouve avisar se não quiser.

Mas em compensação, vc está preso em sua liberdade...

Sim, é preciso abrir este tópico:

abre aspas.

Para que a idéia de liberdade exista
É preciso que haja prisão

É preciso grades
Para o pássaro encontrar o céu

Duas saídas!
Duas saídas, somente!

Você deseja não haver céu
E planeja não haver prisão

Ou você faz de onde está
A liberdade que precisa

Vc se despe das ilusões
E quer abrir as portas para uma prisão mais larga

Ou vc se deita e sonha
E se torna vc mesmo maior, maior que a gaiola

Vc se toma de esperança
vc tem nas mãos a chave da felicidade

Ou vc se toma de beleza
E tem em sua vida o poder de mudar a cor do céu.
reticências

fecha aspas.

Vc está preso em sua invulnerabilidade. O silêncio toma de vc o desejo de se tornar barulho e arrebatamento. Tem na palma da mão a linha da vida longe das outras, e toda surpresa que vc tiver, irá guardar para si, somente. Assim a gota d'água deixa de existir. Assim só o eco responde, e ele não insiste em responder por tanto tempo assim.

Sim, eu, sim, vc, quieto agora. Nas esquinas mais ermas da cidade vc não vai encontrá-lo. O silêncio vai tomar parte de vc, abandonará o ar, que se enche de letras, vozes moduladas e eletromagnetismo, e vai encontrar em vc, em sua solidão comunitária, o espaço que precisava.

E se vc não o deixar entrar, não se preocupe. Ele sempre te invade, nos momentos que vc não percebe, onde vc repousa sua cabeça. E se vc mesmo assim o rejeita, ele te achará no seu íntimo, no sonho, ou até mesmo no desejo inalcansável e na inevitabilidade do fim.

É assim que começou o mundo. É assim que tudo termina.

O silêncio é uma montanha inabalável. No seu pé, uma escola carente de estudantes e professores. Carente de ciência.


music of the day: Queens of The Stone Age - You Can't Quit Me Baby

"A Girafa, calada,
Lá de cima vê tudo
E não diz nada."
Millor Fernandes - Hai-Kais