terça-feira, outubro 31, 2006

beg a pray for it!



Senhor, nosso Deus, nosso Pai,

Perdoe, Senhor, minha indignidade.

Não é aquele pedido de desculpa pela voz rouca antes de discursar, Senhor. É só urgência mesmo. Nem isso, é mais como uma reza católica invertida. E atrevida ante a minha infidelidade com tua Palavra.

É que eu te peço perdão, pois lá no fundo há um vácuo, outrora cheio de água do mar, logo após seguido de sangue quente, escuro, forte e arterial. A culpa é minha, Senhor, mas eu me pergunto se também não devo culpar pelo meu Eu que vivia nos meus 10 anos de idade, se eu devo culpar alguém mais pela minha cerne arredia. Sinto-me evacuado e, porém, mais pesado que o chão.

Por isso, Senhor, peço licença, já que o atrevimento concerne a um pouco mais do mesmo: Peço Senhor que ore para o vento. Vento este, Senhor, não o que criaste, mas o que te motivou a criar, a seduzir, a esculpir e a fazer planos... a este... a isto que não tem palavra, Senhor, que até o Senhor mesmo deve estar sujeito a ele. Entende? A este vento que leva as naus para os continentes novos, e aos piratas para novos saques, e às casas sujeitas aos teus ciclones, que ofereçem a seus donos um novo começar... Você entendeu. Então...

Peço uma oração, Senhor. E um perdão.
Chama o vento, e jogue-me no mar. O vácuo não vai me fazer afundar, né?

Meus agradecimentos vão além, tão além quanto um filho precisa agradecer à mãe. Minhas orações também, bem como meus sonhos e meus medos. Eu não posso me extender, meu Pai. Meus pés estão sujos feito piche e chiclete.

Faz soar minha rádio, meu silêncio Senhor, deixa Tua canção sobre minha respiração.
Saúde o Vento, por mim e diga que eu desejo-o, do fundo do meu coração.

Abro os olhos e sonharei, Senhor. Em ti adormeço
Em nome de Jesus,
Amém.

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music of the day: Mozart - Requiem - III. Sequentia: Lacrimosa

Desconheço o autor

terça-feira, outubro 24, 2006

let them wait for it!

Donde o homem fez-se do barro e do osso fez-se a mulher, as mãos foram de um braço que foram de um corpo que foram de uma alma que se iluminou. Humanos espantam e se espantam, velhas palavras dão vida nova, a morte traz vida, a história reina soberano, mas quem governa, Rainha, é Freud.

Pois os sonhos calçam chinelos surrados, sobem à Serra Pelada, escrevem cartas suicidas aos pais antes de voarem (Lembre-se que um dia um homem teceu sua asa quebrada e despencou dos céus para poder voar), e quem nada pôde fazer, pode dançar... A ironia, a dormência e o filho: são eles que constroem o século.

Digo isso, pois sou teu pai. Você nunca me conheceu, nem produzi tua metade, mas saiba, filho, que novamente o mundo gira, as crateras da lua se espalham e você só tem a certeza de que estará cá comigo um dia, mesmo que não saiba.

Onde estão os tijolos que ergui para contruir seu berço?
Nâo permita que os monte para fundar sua cripta!

Nós que aqui estamos, embaixo da Terra, acima dos Céus, não mais olhamos as letras de nossa história que vocês continuam... Olhamos estrelas, fitando, estudando, mergulhando, invadindo, penetrando o espaço deste universo, como se não mais existíssemos.

Por vós esperamos, meus filhos. Para os mortos, nada mais nos resta, a não ser a espera.

music of the day: Glenn Miller - Moonlight Serenade

"Nunca dominaremos completamente a natureza, e o nosso organismo corporal, ele mesmo parte desta natureza, permanescerá sempre como uma estrutura passageira, com limitada capacidade de realização e adaptação"
Freud