sábado, março 19, 2005

Do Not Flee From It!

Então!

Percebi que eu tenho mania de fugir. De tudo, não me peça para explicar.

Fuga é a rota da encruzilhada da estrada da vida mais fácil... porém ela é apenas um retorno: pode te deixar no mesmo lugar mais tarde, no mesmo cruzamento. Bem, nem sempre, as brumas que cobrem os jardins do Destino são imprevisíveis (daí que penso que predestinação, se existe ou não, é mais complexo e ainda inatingível ao homem, a não ser em algumas "falhas da Matrix". Ainda assim ainda inatingível). Mentir, fugir dos compromissos, evitar os momentos angulares, não olhar pros olhos, além das fatais: matar, roubar, prender alguém em sua prisão e não deixá-lo/a sair, etc etc etc... Tudo isso é fácil, vc consegue fugir, beleza, não tenho que decidir pelo mais difícil. Evitei a parte difícil e vocês, certinhos, ha ha ha!, se lascaram...

... E aí volto para encruzilhada mais tarde. E fugirei de novo. E não me despedirei de mim novamente, nem perderei um pedaço de mim. Serei eu mesmo novamente, confortavelmente chapado, indo pelo mato. E chegará uma vez que notarei que estarei velho e que não cresci. O Tick-Tack Crocodile arrancará meu braço direito, e terei um gancho que quer arrancar, invejoso, a juventude do coração do pequeno peter pan, pois tenho medo de nascer um novo eu mesmo novo, além de ser tarde demais, de todo jeito.

E de todo jeito irei me consolar com qualquer desculpa no fim da vida, agora, na qual mal chego na fase adulta. Não precisei me machucar para crescer.

Mas não cresci. Apenas envelheci. Não me pari nunca...

E engraçado que quando olho para pessoas jovens, mesmo mais velhas que eu, eu invejo elas pensando "puxa, quem dera ser como elas" quando, no fundo no fundo, apenas implanto um gancho mais polido no meu braço direito.

music of the day: George Harrison - Wah-Wah

"Percorra qualquer caminho no jardim de Destino e você terá de escolher, não uma, mas muitas vezes. As trilhas se bifurcam e se dividem. A cada passo que você dá no jardim do destino, você faz uma escolha; e cada escolha determina caminhos futuros. Entratanto, mesmo se passasse toda uma vida caminhando, você poderia olhar para trás e ver apenas um caminho estendendo-se atrás de você... ou olhar adiante, e ver somente a escuridão.
Às vezes, você sonha com os caminhos de Destino e especula, sem propósito algum. Sonha com os caminhos que pegou e com os que não pegou...
Os caminhos divergem, se cruzam e se reconectam. Alguns dizem que nem mesmo o próprio Destino sabe realmente aonde cada caminho o levará, aonde cada curva irá dar.
Mas mesmo se Destino pudesse te contar, ele não o faria. Destino mantém seus segredos.
O jardim de Destino... você o reconheceria se o visse. Afinal, você irá percorrê-lo até morrer. Ou além. Pois os caminhos são longos, e mesmo na morte, não há fim para eles.
Destino, dos perpétuos, é o único que compreende a geografia peculiar do jardim, distinta do tempo e espaço, onde o potencial se torna real. Destino sabe. O livro que carrega é um guia tanto para o jardim quanto para as minúncias do futuro passado.
Destino não possui um rumo próprio, não toma decisões, não muda de direção. Seu caminho está traçado e definido, do princípio do tempo ao fim de tudo."
Neil Gaiman - Sandman #21

terça-feira, março 08, 2005

Love it again!

O amor é um inferno!
Uma rotina desgastante!
O diabo mora neste instante
No bolso do meu terno!
Minha mulher o lava
Minha amante o suja
O amor me faz o que quer.

O amor é uma ilusão
Você já amou? coitado,
Sua vida se tornou recado
Que as nuvens ao vento dão.
Eu já tentei, nunca achei,
Meu olhos compreendem o real:
O amor é só uma combustão.

O amor é um paraíso
Que espero na sacada.
A poltrona se esquece
Do meu peso e da morada.
A vida foi meu trem
A hora é esta estação!
Lá vou eu, amor, para tua casa!

music of the day: Echo and The Bunnymen - The Killing Moon

" Linus:
Acho que é errado sempre se preocupar com o amanhã.
Talvez devêssemos pensar somente sobre o hoje.
Charlie Brown:
Não, isto é desistir.
Eu ainda estou esperando que o ontem melhore."
Charles Schultz

quarta-feira, março 02, 2005

Damn it!

O Malandro
Kurt Weill - Bertolt Brecht -
versão livre de Chico Buarque/1977-1978
Para a peça Ópera do malandro, de Chico Buarque


O malandro/Na dureza
Senta à mesa/Do café
Bebe um gole/De cachaça
Acha graça/E dá no pé

O garçom/No prejuízo
Sem sorriso/Sem freguês
De passagem/Pela caixa
Dá uma baixa/No português

O galego/Acha estranho
Que o seu ganho/Tá um horror
Pega o lápis/Soma os canos
Passa os danos/Pro distribuidor

Mas o frete/Vê que ao todo
Há engodo/Nos papéis
E pra cima/Do alambique
Dá um trambique/De cem mil réis

O usineiro/Nessa luta
Grita (ponte que partiu)
Não é idiota/Trunca a nota
Lesa o Banco/Do Brasil

Nosso banco/Tá cotado
No mercado/Exterior
Então taxa/A cachaça
A um preço/Assustador

Mas os ianques/Com seus tanques
Têm bem mais o/Que fazer
E proíbem/Os soldados
Aliados/De beber

A cachaça/Tá parada
Rejeitada/No barril
O alambique/Tem chilique
Contra o Banco/Do Brasil

O usineiro/Faz barulho
Com orgulho/De produtor
Mas a sua/Raiva cega
Descarrega/No carregador

Este chega/Pro galego
Nega arreglo/Cobra mais
A cachaça/Tá de graça
Mas o frete/Como é que faz?

O galego/Tá apertado
Pro seu lado/Não tá bom
Então deixa/Congelada
A mesada/Do garçon

O garçon vê/Um malandro
Sai gritando/Pega ladrão
E o malandro/Autuado
É julgado e condenado culpado
Pela situação.

...

music of the day: Essa daí, cantada pelo mpb-4, provavelmente. E "Deus Lhe Pague" do Chico... por ele mesmo ou pelo Oswaldo Montenegro... E um bom texto de Machado de Assis...

"O Cadáver / Do Indigente
É evidente / Que morreu.
E no entanto/ Ele se move
Como prova / O Galileu"

O malandro n. 2, da mesma Ópera.