segunda-feira, maio 09, 2005

Jornada de um Barco em Queda Livre - Capítulo 1

Você está num carro em direção a um foguete espacial, e estão dentro dele pilotos, engenheiros, cientistas, e o ambiente é de excitação e, mesmo você não entendendo nada do que dissessem, sabia do que estavam falando.

A plataforma é tão imensa, e os espíritos de vc e dos pilotos, engenheiros, cientistas, tão sólidos, sentem-se esticando esticando, presos entre o carro e a estação. E que quando chegassem na plataforma se arrebentassem em uma inexplicável sensação. Dentro, o foguete espacial, mesmo com tantos detalhes, não conseguem fazer vc absorver nenhum deles: seus olhos, nas mãos, estão no cinto de segurança e na janela que lhe aponta o destino.

Instruções brotam do nada e vc não as entende, mas os pilotos, engenheiros, cientistas, ao que parecia, sim, pois obedeciam e respondiam sem desentendimentos.

Daí o nada começa a contagem...

10...
9... (Em 4 de junho de 1996, menos de um minuto após o lançamento, o foguete francês Ariane 501 se autodestruiu. A conclusão, segundo investigações de uma comissão presidida pelo matemático francês Jacques-Louis Lions, do Colégio de França, foi a de que a destruição foi causada por uma falha provocada por uma anomalia na execução do software: uma conversão de dados de um número de 64 bits em ponto flutuante para um inteiro de 16 bits com sinal. O valor do número em ponto flutuante era maior do que poderia ser representado pelo inteiro de 16 bits com sinal. O resultado foi um operando inválido. Problema este que poderia ter sido resolvido por um graduando em ciências da Computação capaz)*
8...
7...
6... (Einstein e Hilbert desenvolveram uma nova teoria da gravidade chamada relatividade geral, publicada em 1915. Esta teoria prediz que a presença de matéria (gravidade) "distorce" o ambiente de espaço-tempo local, fazendo com que linhas aparentemente "rectas" no espaço e no tempo tenham características que são normalmente associadas a linha "curvas". Embora a relatividade geral seja, enquanto teoria, mais precisa que a lei de Newton, requer também um formalismo matemático significativamente mais complexo. Em vez de descrever o efeito de gravitação como uma "força", Einstein introduziu o conceito de espaço-tempo curvo, onde os corpos se movem ao longo de trajetórias curvas.)**
5...
4...
3... (No século IV a.C., Parmênides de Eléia concebia o universo como "a massa de uma esfera arredondada que se equilibra em si mesma, em todos os seus pontos". Heráclito de Éfeso via o mundo como contínuo movimento e constante vir-a-ser. Dois mil e quinhentos anos mais tarde, como se prolongasse e desenvolvesse essas intuições originais, Albert Einstein, que também concebeu o universo como uma esfera, falou "da razão poderosa e suprema que se revela no incompreensível universo".)***
2...
1...("Ground control to Major Tom / Ground control to Major Tom / Take your protein pills / And put your helmet on / (10) Ground control to Major Tom / (9 - 8 - 7 - 6) Commencing countdown, engines on (5 - 4 - 3 - 2) Check ignition / (1) And may God's love be with you /)
Liftoff!"****

E vc não sabe se foi pela agitação provocada pelas turbinas, ou se pela pressão da física sobre seu corpo ou se pela grande agitação de seus sentido que fez vc perder os mesmos por uns momentos. Mas, logo acordando, vê: vc, o foguete, os pilotos, engenheiros, cientistas, todos sobem, não como num avião onde os comissários pedem para não fumar, mas como um raio em uma velocidade que de tão lenta vc poderia enxergar os elétrons se comportando como partícula e energia para que, ao correr pelos céus, fosse encontrar um equilíbrio para o potencial da qual vc faz parte.

E pela janela vc consegue ver se aproximar o teto do mundo, e este, se escurecendo, lhe faz pensar que estivesse anoitecendo rápido demais. Estrelas vão surgindo e embaixo vc vê o céu e finalmente percebe que todo o tempo em que vc viveu, vc esteve de cabeça para baixo.

As estrelas são seu chão. O mar é que é o céu. E a Terra uma espécie de paraíso em que vc volta quando fosse morrer. Com este pensamento, vc sorri, e todo o medo não mais lhe aterroriza. A saudade será seu alimento e voltar será inevitável destino.

Feliz e triste, você volta seus olhos para o seu chão e começa a lutar para cair... Cair! Pisar os seus pés em degraus desconhecidos, conhecer seus transeuntes, e descer...

Os pilotos, engenheiros, cientistas trabalham para chegarem à estação espacial e vc, ao conhecê-la, entende sua arquitetura maravilhosa de abrigo seguro em uma ilha impossível de chegar. E vc vê que um dos experimentos que habita aquela casa é a de um pequeno barco espacial de fácil navegação, infinita oxigenação, malas para guardar tempo (memórias e provisões), asas para voar turbulentos céus, calefação para mergulhar, velas para navegar pelos ventos solares, uma pequena foto da Terra sua casa seu céu seu paraíso, uma bússola estranha, armas para que não te dêem para-quedas, para-quedas, música, uma caixinha de música com uma bailarina dançando e um toque suave e sutilmente protetor, uma casca de banana, chocolates, uma pequena lanterna, um pequeno espelho...

... e vc não pára para imaginar porque você tem ao seu alcançe este barco sem guarda. Você não olha para os pilotos, engenheiros, cientistas ocupados. Você toma o barco como seu durante o sono deles, aciona seus remos, olha para sua casa e a beija.

Então você olha para o chão e cai.

Salvo algumas liberdades:
* - http://www.ime.uerj.br/~demoura/FAPERJ-SBM/ariane/
** - http://pt.wikipedia.org/wiki/Gravidade
*** - http://www.geocities.com/ceifadordasalmas/fabulas/universo
**** - David Bowie - Space Oddity

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

ei!
se lembre das pessoas do setor V e I da ufrn ao falar de suas coisas.
Elas também são legais! =D

1:16 AM  
Anonymous Anônimo said...

Que legal Tapete! Gostei da mistura de realidade+ficção+física+dúvidas = um texto bacana :D
Continua que quero saber onde caí :D

Beijos,
Chá

10:56 PM  
Anonymous Anônimo said...

=O


=D

11:56 PM  

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