sábado, novembro 06, 2004

feel it!

ou
Celebração

A Deus,
O meu elemento
O meu excremento
O meu alento
O meu castelo e meu receio
Eu ofereço.
Mas vida
Que é mais carecida
Eu dou ao mundo.

Começe outra vez a andar
Em volta desta casa
Começe a voar em torno do sol
Começe a galopar no carrossel
Começe a flutuar nesta piscina
Com estes barcos que navegam
Na tinta do seu edredom

O vento se abre pra não tocar nas mangueiras
O mar se abre pra deixar passar os perdidos
O céu se abre pra mostrar as estrelas
A terra se abriu pra formar meus continentes

Não chore pelo corrupto na própria alma que venceu
Nem chore pelos que sofrerão suas consequências
Chore antes pela humanidade
Que ainda não está pronta para a democracia
E que não tem nem estômago pra se preparar

Isto queima como o sol
Fazendo em chamas o seco
Que são as plantas de uma vegetação
Que me sustenta e são medicinas
Dos índios e sábios das vilas
Aos quais meu povo as chama de favelas.

Tá na hora de você olhar em volta
E ver o que enfim te vale a pena
Pois quando a morte te chegar
Você sentirá que ela terá menos graça.

Subirei numa árvore cuja copa não termina, não começa
E cujos frutos alimentarão todo o povo da Terra
E cujo orvalho saciará a sede dos seus descendentes.

A Deus
O meu pior escarro
O meu melhor carneiro
O meu devaneio
Nos momentos e desgraças do tempo da vida
E o meu fim
Eu ofereço.
O meu sorriso, no entanto
só este,
Eu entregarei a satanás.